quarta-feira, 26 de junho de 2013

YFI...

Hoje me assustei
desequilibrei-me
quis correr sem olhar pra trás
quis partir e não voltar mais
fiquei sem chão
nem o azul me fez feliz
nem a chuva me acalmou
quis poder não ouvir aquele momento
queria poder não sentir esse sentimento
queria voltar no tempo
adiantar um longo longo tempo
o que eu queria mesmo?
nunca ter deixado de ser criança
à criança a esperança é uma farta dança
ando tão melancólica
tão carente de minha  feliz solitude
pensando em sair por aí
em busca de mim mesma
se encontrar
eu me digo....

Renata


terça-feira, 11 de junho de 2013

..e assim caminha a desumanidade...pare o mundo que eu quero descer!!!!

Minha colega embarcou no final de linha de coletivos.Eram cinco horas da manhã....
Quando estava começando a se acomodar para tirar aquele restinho de sono dos cinquenta minutos diários rumo ao trajeto do trabalho, sentaram-se a sua frente duas jovens senhoras, que já chegaram tagarelando. Tentou de todas as maneiras alienar-se , porém, a estridente conversa não permitia. Sem saída, acabou tendo que prestar atenção ao embate. Foi quando, uma delas, soltou a primeira das pérolas que nossa transeunte ouviria naquela manhã:

_ Mulher, é fim de mundo...além de gostar de se aparecer a outra agora inventou que é "sapatão", pode uma coisa dessas?!
_Né não menina, ela sempre "cortou dos dois lados", sabe não?!Tão dizendo por aí que ela está fazendo isso só pra chamar atenção.Essa gente faz qualquer coisa pra ficar "nas mídia".
_Isso é "sem vergonhice", coisa desses "artista". Ela disse que estava fazendo isso para levantar a bandeira dos "homossexual". E esse povo é lá gente normal, isso é doença, sabia não?!
_Pois é , eles dizem que já nascem desse jeito, mas não acredito nisso não. Essas "peste" devia morrer tudo.
Foi quando foram interrompidas por um grupo de adolescentes com uniforme escolar que acabara de se acomodar aos assentos laterais. Com faixa etária entre 15 e 16 anos, eles já chegaram fazendo o costumeiro burburinho pertinente a essa fase. Alegres; conversavam, brincavam e gritavam; tudo ao mesmo tempo.
E as duas senhoras continuaram seu diálogo, porém, temporariamente, o tema mudara...

_Só Jesus, meu Deus. Esses meninos de hoje em dia estão todos perdidos, também os pais não dão educação.
_Nem fala, precisa fazer tanta "presepada" a essa  hora da manhã?!E os "tipo" de música que eles cantam, Deus é mais!
Na parada seguinte entrou um casal muito jovem com uma criancinha de colo e sentou-se atrás de minha colega, ela olhou de relance para trás, como que para verificar quem entrava e eles acenaram com a cabeça. Estavam ambos com um semblante abatido,e, assim que se acomodaram, começaram uma conversa um tanto baixa, mas que dava para ser perfeitamente compreendida, desviando, pois,  a atenção de nossa transeunte das "discretas" senhoras. Seus ouvidos haviam  se tornado uma espécie de receptores e captavam todos os sons ao redor...sensação infernal, segundo ela.
_Mas Bené, se você não conseguir emprego logo a gente vai passar fome. O leite da menina acabou e não tem nem mais nenhum legume para fazer uma sopinha para ela. O que vamos fazer?
_Calma Lina, as coisas vão se ajeitar. Vou vender o computador, isso deve segurar as pontas por uns dias, disse o rapaz envolvendo seu braço, afetuosamente, nas costas da mulher.
Foi quando a criancinha que estava com o casal começou a chorar incessantemente. O casal fez de tudo para acalmá-la, inutilmente. Devia estar com alguma dor ou com fome. Os passageiros começaram a se incomodar e reclamar do choro da criança e os pais já não sabiam mais o que fazer.Dois rapazes que estavam em pé próximo a eles resmungaram mau humorados:
_Esse povo bota filho no mundo e a gente é que paga a conta.
_Fala não...rapaz, eu detesto choro de criança, não existe coisa mais chata, principalmente a essa hora da manhã.
Minha colega voltou a atenção para o então casal que, mais constrangido agora, sussurrou ainda mais baixo:
_Vamos ficar no próximo ponto, é melhor irmos passando pra frente, senão, a gente não vai conseguir descer.
A essa altura o veículo já estava lotado e minha colega, atordoada com tudo que ouvia, nem havia prestado atenção a esse detalhe.
Os dois rapazes que reclamavam do choro da criança, sentaram-se nos lugares de onde  o casal levantara.
Eram rapazes, mas falavam como mulheres e usavam alguns colares de miçanga no pescoço. As mesmas duas senhoras da conversa no início da viagem, ralharam:
_Como pode se irritar assim só porque uma criança está chorando. Isso não é coisa de Deus!
_E não é mesmo. Isso é coisa do demônio, esses "povo" dessas "religião", tem tudo o diabo no corpo. Faz sacrifício com os "bicho", dizem até que fazem coisa desse tipo com criancinha inocente também. Só Jesus na causa!
Um dos rapazes, que escutara o provocador comentário das duas mulheres , irritado, levantou-se, voltou-se para as duas mulheres e soltou a derradeira pérola daquela manhã:
_Olha aqui, suas crentes, me errem! Sim, sou homossexual e também sou de candomblé , mas, pelo menos, não ando rezando versículo da bíblia a meia noite, de trás pra frente, para matar  ninguém não ,viu?!Me deixe! Vá procurar sua turma, rebanho de recalcada.O mal se faz até com os olhos e para se fazer o bem, não se deve olhar a quem. As religiões não têm como selecionar seus seguidores em boas ou más pessoas. Grande parte delas, inclusive, quer apenas aumentar o seu "enriquecedor rebanho", por isso tem gente de tudo quanto é  tipo, em tudo quanto é credo. A religião não representa o verdadeiro caráter de ninguém.
As duas mulheres empalideceram e calaram-se.

 Minha colega, meio zonza e já muito cansada, antes mesmo de chegar ao trabalho, levantou-se de súbito e  gritou como um desabafo ao motorista:

_Pare o mundo, que eu quero descer!





Renata Strobel